Prof. Doutor Ricardo Leão
Combater o cancro do rim exige o envolvimento de todos
No Dia Mundial do Cancro do Rim, que se assinala a 17 de junho, fique a saber quais são os fatores de risco de uma doença muitas vezes silenciosa, a informação é essencial também na Saúde e o cancro do rim precisa do envolvimento dos doentes.
O cancro do rim é um problema de saúde global. Ligeiramente mais frequente nos homens do que nas mulheres, é geralmente diagnosticado entre os 50 e os 70 anos de idade. Em 2020, mais de 430 mil pessoas foram diagnosticadas com cancro do rim em todo o mundo. Só em Portugal, representa aproximadamente 2% de todos os tumores malignos, estimando-se que surjam cerca de 1192 novos casos e aproximadamente 500 mortes anualmente.
O tabaco, a hipertensão arterial e a obesidade são os principais fatores de risco conhecidos para a doença. Neste sentido, manter uma alimentação cuidada e evitar fumar são medidas importantes que podem evitar o seu aparecimento.
Na sua grande maioria, os doentes com cancro do rim são assintomáticos, sendo habitualmente diagnosticados em exames médicos de imagem de rotina. No entanto, a persistência de dor lombar acompanhada de sangue na urina pode ser uma manifestação da doença e merece avaliação clínica precoce.
O fácil acesso a meios auxiliares de diagnóstico, como por exemplo a ecografia, tem resultado num aumento significativo do diagnóstico de tumores renais. Alguns destes tumores têm um comportamento que não provoca dor, raramente desenvolvem metástases, sendo pouco agressivos e não necessitam de tratamento, enquanto outros têm um comportamento mais agressivo e os doentes necessitam de terapêutica, como, por exemplo, serem submetidos a cirurgia para remoção do rim.
Os diferentes tipos de tumores do rim, bem como os diferentes estádios da doença, têm motivado intenso estudo sobre este cancro, o que tem resultado em diferentes opções terapêuticas, que variam desde a simples observação, sem necessidade de tratamento, passando por abordagens minimamente invasivas mais inovadoras, como a crioterapia, a ablação de tumores por radiofrequência, ou de tumores renais por laser, a cirurgia minimamente invasiva - robótica e laparoscópica - até à terapêutica sistémica com anti-angiogénicos e imunoterapia em estádios mais avançados de doença.
Todas estas opções, no que diz respeito aos desenvolvimentos tecnológicos, permitem a aplicação de métodos de diagnóstico e abordagem terapêutica através de cirurgias minimamente invasivas e de terapêutica médica como novos medicamentos, mais específicos e menos tóxicos.
Um dos maiores desafios da medicina atual, cada vez mais personalizada, específica e com grande diferenciação técnica, reside no escasso envolvimento dos doentes na tomada de decisão sobre a sua doença. Verifica-se a necessidade de chamar a atenção para o cancro renal como um problema de saúde significativo e crescente, providenciando aos doentes com cancro do rim uma informação correta e transparente acerca da doença.
Em Portugal, existe uma associação de doentes com cancro do rim (AC RIM), que se formou desde a reunião mundial do IKCC (International Kidney Cancer Coalition), organizada, em Lisboa, em 2019 pela CUF. O IKCC tem por objetivo ajudar as organizações nacionais de doentes com cancro do rim, servindo doentes e famílias em todo o mundo, possibilitando-lhes obter as informações necessárias de modo a terem um papel ativo no entendimento da sua doença. A nível mundial tem ajudado a aumentar a consciencialização sobre o cancro renal, salientando as necessidades não satisfeitas dos doentes, as lacunas a nível da investigação - e promovendo o acesso e a qualidade do tratamento e dos cuidados.
Em Portugal, a AC RIM tem dado voz aos doentes portugueses com cancro do rim e tem de forma muito dinâmica criado o “impulso” necessário para o envolvimento dos doentes portugueses na sua doença. Os seus elementos têm contribuído de forma ativa para o aumento da consciencialização sobre o cancro do rim, salientando as necessidades não satisfeitas dos doentes, as lacunas a nível da investigação e as dificuldades de acesso a terapêutica, promovendo sempre a informação e o apoio aos doentes e suas famílias.
Sendo hoje reconhecida a importância das associações de doentes na melhoria dos cuidados de saúde, estas organizações encontram-se atualmente envolvidas no processo de investigação clínica e de criação de políticas de saúde - garantindo que a perspetiva global do doente seja considerada. O seu papel é também fundamental para dar voz aos doentes em fóruns de discussão científica e social, de modo a encontrar as melhores respostas para as necessidades sentidas.
A CUF Oncologia e a Associação de Cancro do Rim de Portugal (AC RIM) organizam um encontro virtual, no próximo dia 30 de junho, a propósito do Mês do Cancro do Rim, para uma conversa sobre o cancro do rim, um tipo de cancro raro, muitas vezes diagnosticado por acaso. Neste encontro virtual, o primeiro encontro de doentes da Associação, irão juntar-se especialistas, doentes e cuidadores, indústria farmacêutica e sociedade. O encontro será realizado através da plataforma Zoom e com transmissão em direto na página de Facebook da CUF. Convido todos a acompanharem esta iniciativa, porque a informação é fundamental também na saúde.
Prof. Doutor Ricardo Leão,
Coordenador de Urologia do Hospital CUF Coimbra
Urologista no Hospital CUF Tejo
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Sócio honorário da AC RIM