Prof. Doutor Ricardo Leão
Não ignore o cancro do rim
Todos os anos surgem em Portugal quase 2 mil casos de cancro do rim, um problema de saúde global
Todos os anos surgem em Portugal quase 2 mil casos de cancro do rim, um problema de saúde global geralmente detetado entre os 50 e os 70 anos de idade. No Dia Mundial do Rim, que se comemora hoje, é fundamental conhecer os fatores de risco e alertar para a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento médico.
O cancro do rim é um problema de saúde global. Ligeiramente mais frequente nos homens do que nas mulheres, é geralmente diagnosticado entre os 50 e 70 anos de idade. A vulgarização do recurso a meios complementares de diagnóstico de imagem, por exemplo a ecografia para avaliação de dores lombares por "pedra nos rins", tem resultado num aumento significativo do diagnóstico de tumores do rim, sobretudo lesões de menor dimensão e menos agressivas.
No Dia Mundial do Rim, que se assinala hoje, é importante lembrar que, só em 2020, 336.456 pessoas foram diagnosticadas com cancro do rim em todo o mundo. Em Portugal, representa aproximadamente 2 a 3% de todos os tumores malignos, estimando-se que surjam cerca de 1.191 novos casos anualmente.
Na sua grande maioria, os doentes com cancro do rim são assintomáticos, sendo diagnosticados em exames de imagem de rotina. No entanto, a persistência de dor lombar acompanhada de sangue na urina pode ser manifestação da doença e merece avaliação clínica precoce.
Os tumores de dimensões reduzidas têm geralmente um comportamento indolente, raramente metastizam e são pouco agressivos, podendo não necessitar de tratamento e apenas ser vigiados ao longo do tempo com auxílio de tomografia computorizada ou ecografia. Outros tumores diagnosticados em fases mais avançadas da doença, ou que têm um comportamento mais agressivo, necessitam de terapêutica, normalmente cirúrgica, com o objetivo de remoção do tumor.
Os diferentes tipos de tumores do rim, bem como as diferentes fases da doença, têm motivado intenso estudo sobre este cancro, o que tem resultado em diferentes opções terapêuticas que variam desde a simples observação - sem necessidade de tratamento-, passando por abordagens minimamente invasivas mais inovadoras - crioterapia, ablação de tumores por radiofrequência, cirurgia minimamente invasiva, cirurgia robótica e laparoscópica - até à medicação cada vez mais específica e menos tóxica como a terapêutica sistémica com anti-angiogénicos e imunoterapia em doença metastizada. Em regra, a abordagem minimamente invasiva tem por objetivo preservar a parte "saudável do rim". No entanto, nem sempre a preservação do rim é possível e por vezes é necessária a remoção de todo o órgão.
Um dos maiores desafios da medicina atual, cada vez mais personalizada e com grande diferenciação técnica, reside na necessidade de envolver os doentes na tomada de decisão sobre a sua doença. É necessário chamar a atenção para o cancro do rim como um problema de saúde significativo e crescente na nossa população. Torna-se fundamental reconhecer a importância do envolvimento dos doentes na melhoria dos seus cuidados de saúde e é por isso que, na nossa prática clínica garantimos que a perspetiva global do doente é considerada de modo a encontrar as melhores respostas para as necessidades sentidas em cada uma das pessoas. É igualmente importante alertarmos para o diagnóstico precoce da doença. A realização de exames de imagem, como a ecografia renal, é crucial para a deteção de lesões de baixa gravidade e, consequentemente, melhor prognóstico e é crucial ser realizada por rotina em indivíduos de ambos os sexos.
O tabaco, a hipertensão arterial e a obesidade são fatores de risco conhecidos para a doença. Assim, uma alimentação cuidada e deixar de fumar são medidas importantes que podem evitar o seu aparecimento, a par de um acompanhamento médico regular.
Prof. Doutor Ricardo Leão,
Coordenador de Urologia do Hospital CUF Coimbra
Urologista no Hospital CUF Tejo
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Sócio honorário da AC RIM